quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O Mendigo

Por mais de trinta anos um mendigo ficou sentado no mesmo lugar, debaixo de uma marquise. Até que um dia, uma conversa com um estranho mudou sua vida:
- Tem um trocadinho aí pra mim, moço? – murmurou, estendendo mecanicamente seu velho boné.
- Não, não tenho – disse o estranho.  – O que tem nesse baú debaixo de você?
- Nada, isso aqui é só uma caixa velha. Já nem sei há quanto tempo sento em cima dela.
- Nunca olhou o que tem dentro? – perguntou o estranho.
- Não – respondeu. – Para quê? Não tem nada aqui, não!
Dá uma olhada dentro – insistiu o estranho, antes de ir embora.
O mendigo resolveu abrir a caixa. Teve que fazer força para levantar a tampa e mal conseguiu acreditar ao ver que o velho caixote estava cheio de ouro.
Eu sou o estranho sem nada para dar, que está lhe dizendo para olhar para dentro. Não de uma caixa, mas sim de você mesmo. Imagino que você esteja pensando indignado: “Mas eu não sou um mendigo!”
Infelizmente, todos que ainda não encontraram a verdadeira riqueza – a radiante alegria do Ser e uma paz inabalável – são mendigos, mesmo que possuam bens e riqueza material. Buscam, do lado de fora, migalhas de prazer, aprovação, segurança ou amor, embora tenham um tesouro guardado dentro de si, que não só contém tudo isso, como é infinitamente maior do que qualquer coisa oferecida pelo mundo.

Do livro “O poder do agora” de Eckhart Tolle.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Vivemos em mundos diferentes. Alguns não tem nada, outros mais do que precisam. Uns vivem como se nunca fossem morrer, outros morrem como se nunca tivessem vivido. Uns controem bombas atômicas para sentirem-se poderosos, outros preferem a comprovada segurança do pacífico diálogo.

É... vivemos em mundos muito diferentes. Uns tiram suas próprias vidas em nome de religiões absurdas, outros defendem as palavras de Deus com sábias frase. Alguns gastam milhões a procura de vida em novos planetas, outros, sem muito tentam ainda preservar a vida do mais belo de todos.
E assim giram esses dois diferentes mundos... mundos opostos em constantes contrastes. Quando entendermos que envelhecer não significa deixar de ser criamça, que sonhos estão aí para serem alcançados, que amigos a gente conquista mostrando o que somos, que podemos nos confessar com a Lua... aí sim podemos unir esses mundos tão diferentes, afinal, todos nós que pertencemos a este ou aquele, já nos encontramos em coisas simples...
Quem já não se queimou brincando com vela ou brincou de super herói ou foi à Marte, quem já não conversou com o espelho, lambuzou os dedos num bolo ou passou trote por telefone, ...
Quem já não tomou banho de chuva e acabou se viciando, quem não roubou beijo e confundiu sentimentos ou fez juras de amor eternas para o amor errado, quem não chorou ouvindo música no ônibus ou sentado no chão do banheiro,...
Quem não ficou sozinho no meio de mil pessoas sentindo falta de ema só ou já não deitou na grama de madrugada e viu a Lua virar Sol.
Tantas coisas feitas, momentos fotografados pelas lentes de emoção, guardados num baú, chamado coração.
Devemos plantar sorrisos e colher sonhos, afinal, não existem limites nem dias sem dor, nem risos sem sofrimento...

O AMOR possui essa magia... a magia de unir esses dois mundos... belos e diferentes mundos.


(O cartão que recebi com esta mensagem não citava o nome do autor)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

"Não o fizemos nem do céu nem da terra
Nem mortal nem imortal
Para que possa, com livre arbítrio e com honra,
Como se fosse criador de si mesmo
Moldar sua vida em qualquer forma que preferir,
Pelo julgamento de sua alma,
Você tem o poder
De renascer nas formas superiores,
Que são divinas."

Discurso de Deus a Adão,
na oração sobre a dignidade do homem,
de Pico Della Mirandola.
"Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que que planejando, vivendo que esperando... Porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu..."

Luiz  Fernando Veríssimo

domingo, 10 de janeiro de 2010

O AMOR


Quando o amor bater a tua porta,
segue-o,
mesmo que o caminho seja pedregoso e difícil.
E quando o amor quiser falar contigo,
acredite nele,
ainda que tua voz possa fazer evaporar teus sonhos,
como o vento forte que devasta o jardim.
Da mesma forma que te exalta,
o amor te crucifica,
e como te faz amadurecer, assim te podará.
E te entregará ao seu fogo sagrado a fim
de que sejas o pão santo da mesade Deus.
É o que o amor realiza em ti,
para que possas tornar-te uma fração do coração da Vida.
O amor nada dá a não ser a si mesmo,
e nada colhe, senão em si mesmo.
O amor não é possessivo, tampouco gosta de sê-lo,
porque basta-se a si mesmo.
E não penses que poderá conduzi-lo,
pois, se te achar digno, ele mesmo te conduzirá.
O amor não quer senão consumir-se!
Se amas de verdade, sejam estes teus desejos:
ao despontar do dia, despertar com um coração alado
e agradecer por este novo dia de amor;
à noite, adormecer com uma prece ao amado
e um canto de louvor nos lábios.


Gibran                            

sábado, 2 de janeiro de 2010

"Eis que vos digo um mistério: nem todos dormiremos, mas transformados todos seremos, num momento, num abrir e fechar de olhos..." Coríntios 15:51

domingo, 27 de dezembro de 2009

Descrição do beijo


"Toco a sua boca, com um dedo toco o contorno da sua boca, vou desenhando essa boca como se tivesse saindo da minha mão, como se pela primeira vez a sua boca se entreabrisse, e basta-me fechar os olhos para desfazer tudo e recomeçar. Faço nascer de cada vez, a boca que desejo, a boca que minha mão escolheu e desenha no seu rosto, uma boca eleita entre todas, com soberana liberdade eleita por mim para desenhá-la com minha mão em seu rosto, e que por um acaso que não procuro compreender coincide exatamente com a sua boca, que sorri debaixo daquela que a minha mão desenha em você.
Você me olha, de perto me olha, cada vez mais perto, e então brincamos de ciclope, olhamo-nos cada vez mais de perto e nossos olhos se tornam maiores, se aproximam um dos outros, sobrepõe-se, e os ciclopes se olham, respirando confundidos, as bocas encontram-se e lutam debilmente, mordendo-se com os lábios, apoiando ligeiramente a língua nos dentes, brincando nas suas cavernas, onde um ar pesado vai e vem com um perfume antigo e um grande silêncio. Então, as minhas mãos procuram afogar-se no seu cabelo, acariciar lentamente a profundidade do seu cabelo, enquanto nos beijamos como se tivéssemos a boca cheia de flores ou de peixes, de movimentos vivos, de fragância obscura. E se nos mordemos, a dor é doce; e se nos afogamos num breve e terrível absorver simultâneo de fôlego, essa instantânea morte é bela. E já existe uma só saliva e um só sabor de fruta madura, e eu sinto você tremular contra mim, como lua na água."

Julio Cortázar, em
O Jogo da Amarelinha